Xavier e Dora eram casados há alguns anos,
tempo suficiente para viverem algumas crises conjugais. Na última,
recorreram a uma terapeuta de casais que os aconselhou a deixarem o
parceiro ter um momento individual, particular. Xavier, já tinha e continuou
indo às "peladinhas" de segunda e sábado com os amigos da empresa que
trabalhava e Dora começou a frequentar o Boteco das Luluzinhas que uma amiga de
faculdade havia formado. Eram cinco amigas que todas às sextas se encontravam
em algum boteco da cidade.
- Todas as sextas é...? -
perguntou um colega de trabalho de Xavier na "peladinha" de segunda.
- É.
- E ela vai
religiosamente, todas às sextas! Não falta nunca?
- Ás vezes, quando está
"naqueles dias", por exemplo!
- Ah... "naqueles
dias"...
Xavier estranhou aquele
papo e quis logo saber aonde o colega queria chegar.
- Seguinte, Xavier,
abre teu olho! Esse papo de terapeuta tá muito estranho... Daqui a pouco ela
vai estar sugerindo casamento aberto. Faz uma coisa, testa tua mulher. Da
próxima vez que ela for pra esse boteco ai, tu vai junto, mermão! Abre
teu olho!
Xavier ficou pensando a
semana toda nisso, nunca poderia imaginar que a mulher estaria enganando- o.
Está certo que estranhou esses encontros em um boteco, mas depois que Dora
explicou, ficou mais coerente.
- É mais prático a
gente se encontrar depois do trabalho. Ninguém precisa ir para cozinha de
ninguém, sujar a casa de ninguém... A gente bate um papo e depois cada uma vai
para sua casa. Se fosse no final de semana você ia reclamar. Sábado, você tem pelada, quem ficaria com as crianças? E domingo é dia santo, dia de ficar com a família. Só podia ser sexta mesmo!
No entanto, depois da
conversa com seu colega, resolveu tirar isso a limpo. Na quinta, ligou para sua
irmã e pediu para que ela tomasse conta das crianças e antes de dormir avisou:
- Amanhã vou com você
nesse boteco das Luluzinhas.
Dora não estava
entendendo nada.
- Como assim? Não posso
levar você, é só para as meninas.
- Como assim ? digo eu ,
Dora! Por que homem não pode ir? O que você está fazendo lá que eu não posso
participar?
Xavier sempre
foi muito ciumento, conhecera Dora ainda no colégio, praticamente vivenciaram
todas as experiências da juventude juntos. Quando se formou, a primeira coisa
que fez foi pedi-la em casamento. Mais três anos e
eram oficialmente marido e mulher. Os filhos vieram logo em seguida,
um casal. Dora, diminuiu a carga horária de trabalho no escritório de
engenharia que trabalhava e Xavier aumentou a sua. Com o tempo foram se
distanciando, mas Xavier sempre teve muito ciúme de Dora e esse era o principal
motivo das brigas do casal. Dora queria retomar sua vida particular, seus
desejos e sonhos abafados em nome de um "casamento feliz", mas sabia que quando
Xavier estava cego de ciúmes, nenhum argumento adiantava.
- Falarei com
as meninas amanhã de manhã, se elas não se incomodarem, você irá. Caso contrário, continuaremos fazendo o que já tínhamos combinado. Cada um com suas particularidades!
No dia
seguinte, logo após o almoço, Dora avisou Xavier.
- Minhas amigas
concordaram com sua presença. Será uma única vez e você não poderá opinar sobre
nada, apenas escutar ou responder, está certo?
- Certo.
No início da
noite chegaram ao boteco do encontro. Já estavam sentadas Heleanor, amiga de
faculdade de Dora, Isabel e Ligia. Faltava apenas chegar a Luciana,
única solteira do grupo.
- Até que
enfim, Dora! Senta aí. - saudou Heleanor - Senta, também Xavier, seja bem-vindo
ao nosso boteco. Você é um homem corajoso de enfrentar cinco leoas! Quantos
chopinhos? Dois?
- Acho
que só a Dora vai beber. Eu estou dirigindo, uma água sem gás, está bom.
- Água?!
Olha que eu também estou dirigindo, mas qualquer coisa ligo para o Claudio, meu
marido, afinal é para isso que eles servem, né meninas? Nos salvar do perigo!
Todas
gargalharam, inclusive Dora. Xavier começou a se sentir realmente em perigo, mas
não por estar na presença de leoas e sim de cobras!
- Bem,
lá em casa a coisa está bem difícil.- disse Ligia - Acho que nem do perigo meu
marido me salva porque o homem é bom de cama...
-
Deita e dorme! - falaram todas ao mesmo tempo e gargalharam novamente.
Xavier
soltava um sorriso amarelo.
-
Gente, vamos aliviar! O pobre do Xavier vai pensar que a gente só se reúne para
falar mal dos nossos maridos. Depois ainda vai sobrar pra Dora.
-
Que isso! - disse timidamente Xavier.
-
Meninas, podem ficar tranquilas que avisei pra ele como seria. Não se preocupem
comigo que lá em casa a gente se entende!
- Olha só, Xavier! Cuidado ,
hein ...! - brincou Heleanor.
Nesse momento, Luciana chegava ao boteco toda eufórica.
- Amigas, desculpe-me o atraso, mas fui ainda em casa
buscar uma coisinha para mostrar para vocês.
- Nãããõoo, você lembrou, Lu?! - perguntou Ligia.
- Claro! Aqui está.
E de dentro de sua bolsa tirou um estojo branco de plástico transparente,
dentro enrolado em um saco de veludo estava um objeto. Era todo branco,tinha um
pequeno formato fálico, mais ou menos do tamanho de um dedo polegar.
Na sua ponta tinha uma cobertura prateada e na outra um longo fio com um
controle de dois botões que lembravam aqueles de carrinho. Entre gritos,
risadas e falas entrecortadas, Xavier resolveu interromper para saber do que se
tratava.
- É um vibrador, Xavier! - esclareceu sua esposa, na maior naturalidade
como se fosse íntima do objeto.
- Xavier, na semana passada, havia dito às meninas que tinha ganhado esse
vibrador de um amigo. E falei que traria no nosso próximo encontro para
mostrar. É importado, mas sei que algumas lojas já estão vendendo.
Xavier realmente não entendia absolutamente nada, apenas disse.
- Ah!
- E então, você já experimentou?
- Já, Ligia, duas vezes!
Luciana começou a detalhar suas práticas com pequeno e eficiente objeto
sexual. Xavier atento, chamou o garçom.
- Um suco de laranja, por favor!
Era preciso algo mais forte do que uma simples água, ainda mais,
sem gás! - Na primeira vez estava no engarrafamento e pensei "Por que
não?" e a segunda foi em uma reunião chatérrima!.
- Re-re-reunião... - engasgou-se Xavier com o suco - Como assim?
- Fica quieto, Xavier, deixa ela contar - repreendeu Dora.
- Explica para ele como funciona, Lu.- pediu Heleanor.
- Xavier, esse vibrador a gente coloca na direção do clitóris e esconde os
fios por dentro da roupa e põe o aparelho de controle no bolso, por
exemplo. Tem duas velocidades que vibram e estimulam o clitóris e em pouco tempo, uma mulher vai ao céu e volta. Você devia comprar para Dora, hein amiga?
Dora apenas sorri. Xavier por alguns segundos tem vontade de perguntar
se a esposa queria um de presente, mas com medo de uma resposta positiva,
preferiu não perguntar nada.
- Só mais uma pergunta?
- Diga, Xavier.
- Na reunião, ninguém percebeu nada?
- Não. Era uma teleconferência, chatérrima mesmo! A sala de reuniões
estava escura e eu sentei-me nas últimas cadeiras. Em uma certa hora
levantei-me, fui ao banheiro, arrumei meu "amiguinho" na
"caverninha" e ...voilá , fui ser feliz!
Mais risadas das meninas e sorriso amarelo do pobre Xavier.
Isabel, também tinha uma revelação a fazer.
-
Meninas, tenho algo para falar. Eu e Miguel estamos nos separando.
- Nossa, Isabel, que chato! - lamentou Heleanor.
-
As coisas já não estavam dando muito certo e ...enfim, conheci uma pessoa e ...
- E danadinha ... escondendo o jogo, que é ele , conta tudo!
-
Na verdade,... é ela!
Ao ouvir esse pronome pessoal feminino, Xavier mais uma vez engasgou-se. Dora, o
olhou discretamente e sorriu. Conhecia seu marido e sabia que talvez fosse a
última vez que participaria desse clube para mulheres.
- Garçom, por favor um refrigerante! - pediu Xavier. -
- O nome dela é Ana, trabalha comigo e algum tempo já vinha percebendo que nossa amizade estava diferente. Como as coisas em casa estavam muito distantes, fui me aproximando dela e .... acho que tenho que viver essa experiência.
- O nome dela é Ana, trabalha comigo e algum tempo já vinha percebendo que nossa amizade estava diferente. Como as coisas em casa estavam muito distantes, fui me aproximando dela e .... acho que tenho que viver essa experiência.
-
Claro, Isabel, o mundo é outro, as pessoas são outras. Você está certíssima! -
apoiou Luciana.
- Já contou para o Miguel? - quis saber Dora.
- Não, vou ter essa conversa ainda esse final de semana, mas queria saber
a opinião de vocês.
- Apoiada, vai ser feliz , amiga - disse Ligia.
- Todas apoiam você e sua felicidade , amiga!- confirmou Heleanor.
Xavier nada dizia, mudo estava, mudo permanecia.
- Voltando ao aparelho da Luciana, eu só achei pequeno.
- Mas é pra ser pequeno mesmo, pois fica na região do clitóris, Heleanor.
- Ué, mas vocês mulheres não falam que tamanho não é documento?
- Pera lá, Xavier, tudo vai depender do tamanho da língua .
E
todas gargalhavam. Xavier, mais uma vez chamou o garçom.
-
Por favor, um chope.
-
Chope? Você vai beber?! - perguntou Dora.
Naquela situação, a única coisa que faria sentido era uma cerveja gelada.
- Não se preocupa, Dora. Um chopinho
não faz mal a ninguém! - aliviou Luciana - Vamos fazer um brinde!
-
"Que os nossos homens nunca morram
viúvos, e que nossos filhos tenham pais ricos e mães gostosas!"
Mais gargalhadas...
- Por falar em gostosas... Malhei horrores na academia ontem...- disse Luciana - ...também com um personal que tem por lá...
Mais gargalhadas...
- Por falar em gostosas... Malhei horrores na academia ontem...- disse Luciana - ...também com um personal que tem por lá...
E assim, Xavier ia degustando esse universo
feminino, que até então desconhecia. Esperava ouvir queixas de maridos, de
preço das coisas nos supermercados, trocas de receitas, dicas culinárias, liquidações de marcas famosas... Mas o
que ouviu até às três da manhã foi suficiente para entender que as mulheres
mudaram e que o que elas falavam só poderia ser compartilhado em
uma mesa de botequim, jamais em um chá das cinco.
Voltaram para casa em silêncio. Antes de dormir, se amaram
ardentemente. Dora atribuiu ao copinho de chope, toda a volúpia do
marido. Durante a semana nada comentaram também sobre qualquer assunto
que tinha sido compartilhado naquela mesa de bar. No joguinho de segunda,
Xavier apenas comentou que acompanhou a esposa e que tudo estava resolvido.
Quando chegou a sexta-feira, Dora nem ousou falar que iria se encontrar com as
amigas, estava preocupada com o silêncio do marido e preferia não provocar uma discussão. Quando Xavier chegou em casa e viu sua mulher com o velho pijama, perguntou:
- Hoje não tem boteco das Luluzinhas?
- Tem, mas eu não vou. Não se preocupe.
- Tem, mas eu não vou. Não se preocupe.
- Não vai?! Por quê?
Dora sentiu que não poderia mais evitar a conversa, porém antes que começasse uma explicação Xavier completou.
- Você tem todo direto de sair com suas amigas e se divertir. Troque sua roupa e vá logo!
Dora apesar de não acreditar no que ouvia, sorriu para o marido e foi trocar sua roupa. Estava feliz de saber que finalmente a terapia de casal estava surtindo efeito e ele estava percebendo muitas coisas que antes a sufocavam. Antes de sair disse:
- Não se preocupe que não demoro.
-Tudo bem , vá tranquila.
E quando a esposa estava já na porta, falou:
- Dora, quando chegar, me acorde. Estou louco para saber mais sobre esses papos de Luluzinhas...
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